2/18/2010

Sinto-me bem!

É verdade. Passei pelo centro de saúde hoje de manhã e foram-me retirados os pontos da operação. Que alívio! Andava com uma sensação de prisão. Aquelas finas linhas tiveram a capacidade de limitar a vida de uma forma que já nem eu me lembrava. Finalmente poderei tomar um banho em condições dignas de um ser humano! Finalmente pude agarrar na mota! Finalmente vou poder fazer desporto! Finalmente! Finalmente!
Hoje sinto-me bem, aliviado, leve, saudável! Na crónica do "Bloco Operatório" mencionei o "2010 ano da saúde". Reservei este ano, especialmente para tratar de mim. Falo fisicamente, pois o resto só melhora com a idade. A idade. Que peso real terá a idade sobre as nossas cabeças? Penso algumas vezes sobre isso e acredito que serei um velho criança. Não daqueles de fralda, espero que não. Gostava de viver a velhice de forma digna, como todos merecemos. Não quero dramatizar, mas nos dias que correm temos de cuidar de nós. Caminho para os 34 a grande velocidade e achei que seria um bom ano para fazer um check-up geral e tratar o que fui deixando para trás, como esta operação. Estou também a finalizar fisioterapia a uma tendinite no calcanhar, que até está a superar as minhas expectativas e em Março começo um programa de treino intensivo para aniquilar a barriga de pudim... Podem rir, podem chorar de rir (que eu faço o mesmo) mas sem impedimentos físicos, só um (uns) bons pratos me poderão impedir de alcançar esse objectivo em 2010.

2/12/2010

Bloco Operatório

Lipoma = é um acumular de tecido gorduroso que surge por baixo da pele (subcutâneo). Os lipomas são tumores benignos, mas podem crescer bastante, causando grande incómodo estético e até mesmo físico.

Decidi extrair, no âmbito do 2010 o ano da saúde (coisas minhas). Foi mais rápido do que julgava e na passada terça feira sai de casa rumo ao Amadora Sintra para a micro-cirurgia. Dei entrada no Hospital e desde logo percebi que tinha de me conter. Vejo um casal a entrar no carro para sair do estacionamento e encostei o meu carro com pisca ligado a sinalizar a intenção de estacionar. Assim que o lugar ficou vago, chega-se um chouriço à frente vindo de uma saída das consultas externas. Eu parei o carro e fiz sinal que o lugar era meu. Avanço um pouco para a frente com intenção de estacionar de traseira e qual não é o meu espanto quando o chouriço se mete a chourição pelo estacionamento. Travei o carro e avancei em direcção ao sr. Chouriço. Educadamente pedi que tirasse o carro pois já lá estava à espera do lugar. A resposta não foi positiva e eis que sou invadido por uma onda de agressividade e literalmente ordenei que tirasse o carro ou ía-mos ter chatices. Isto em português terá sido mais ou menos assim: Tira mas é essa merda daí antes que leves uma chapada no focinho!!!!... Triste admito, mas eficaz! Chouriços ou distraídos? Não sei, sei apenas que abusam da sorte. O povo é sereno, mas um dia também o povo se passa dos carretos! Tenho o hábito de dizer… mamem mas não abusem! Este estava claramente a abusar!
Era suposto dar entrada ao meio dia. Cheguei ao local pelas 11:45h. Foi-me pedido para esperar na salinha até que me chamassem. Quando me apercebi da quantidade de pessoas que esperavam por uma cama, como eu, formatei de imediato as ideias de forma a não me deixar influenciar pelo pessimismo geral, ou mesmo pela má entrada no Hospital. Esperei mais de 2 horas. Debaixo de protestos mudos de alguns pacientes que nada tinham disso mesmo, paciência. Lá me aguentei, tranquilo e de boa vontade. Fui chamado e acompanhado por uma enfermeira com muito sentido de humor. Disse-me que não tinha cama, teria de ficar numa sala adaptada para o caso. Só lhe respondi que isso é que era preciso. Bom humor apesar das circunstâncias. Já na sala constatei que era mesmo uma situação real. Não tinha cama. Foi-me dito que provavelmente não teria sapatos. Não estava bem a perceber se estavam a brincar comigo, ou a falar a sério. Quando foi para me colocar o cateter, virei o bico ao prego. A enfermeira escarafunchou a mão direita e perguntou-me se estava a aleijar. A resposta tinha de ser no mesmo tom. Calmamente respondi que não, apenas estava quase a desmaiar… Parou de imediato e olhou para mim muito assustada, mas ri-me e conclui com humor. Deve pensar que só se brinca para um lado não? Ahahahah essa foi boa! Dizia ela. Coisa de 10 minutos depois chega uma auxiliar e entrega-me a bata verde e completamente transparente. Confirma que não tinham sapatos, estavam esgotados. Mandou-me despir e vestir a bata (igual a nada lol). Temos 2 maneiras de agir nestes casos. Ficamos envergonhados, ou pensamos que fartos de ver gajos com a piroca a balançar de um lado para o outro estão eles. Optei pela segunda hipótese. Nada mais certo. Deixei as vergonhas na sala e saltei para a maca a caminho do bloco operatório. A partir daqui somos tratados como mercadoria. Deixei de ter nome. Passei a ser o “primeiro tempo”. Dr. Já está aqui o primeiro tempo. Fiquei cerca de 30 minutos num hall de entrada para o bloco operatório. Tive tempo para dormir uma soneca, apesar de ter como almofada o dossier com o meu processo… Fui acordado pela única enfermeira que me tratou como ser humano. Simpatia e calor humano numa sala fria e impessoal. Liga-me ao saco de soro e logo inchou a mão. Azar, temos de furar a mão esquerda. Depois de tudo a postos e de me virar de barriga para baixo, fui informado de que iria ser anestesiado localmente com direito a adrenalina. Contente pela adrenalina (ahahahahah) mas preocupado pela anestesia local. Era sinal de que iria estar consciente e atento ás conversas. Senti a picada para a anestesia e de seguida comecei a ouvir comentários como: já lá estamos! Depois disso foi como se estivessem com um alicate a tentar tirar um parafuso velho e enferrujado. Este está difícil! Não quer sair! Umas tentativas depois… Já está! Respirei de alívio. Não estava a sentir qualquer coisa, mas as palavras eram tão piores que as dores, pensava eu. Quando me estava a preparar para relaxar, oiço: Espera! Ainda está lá mais qualquer coisa… Sai mais uma sessão de alicate e chave de fendas lol. Quando me puxam por um bife, gani de dor como um cão e respirei fundo. Perguntaram-me se doeu… chiça! Não que não doeu!!! Dessa hora em diante comecei a suar perdidamente, a ficar tonto e sem reacção (sintomas sobejamente conhecidos por mim) ao ver os monitores, a enfermeira humana (lol) depressa avisa o médico de que estava a ter uma quebra de tensão e baixa repentina da pressão cardio vascular. Nessa altura e em consideração a ela, levantei o braço e disse que era normal. Já ia recuperar e expliquei que basta falar de ossos partidos e coisas do género para ficar nesse estado. Ela riu e de facto confirmou-se a minha previsão. Mesmo a ouvir palavras como, dê dois pontinhos por dentro e depois pode coser por fora, os níveis retomaram a normalidade e apenas foi difícil fazer o penso, pois estava tão suado que nada colava à pele. Ao sair do bloco operatório fui surpreendido pela enfermeira humana que me ajudou a passar para a maca. Ela deve saber o quão importantes são estes gestos. Foi a única pessoa a quem agradeci, precisamente por ser a única que me tratou como José e não como “primeiro tempo” Na volta para a sala improvisada, discussão brutal entre enfermeiros e médicos sobre se iria ficar internado ou não. Camas não temos. Isto é uma vergonha dizia o enfermeiro chefe! Querem operar tudo, mas depois não têm condições. Lá decidiram mandar-me para casa. Nota 10 para a enfermeira que me deu a alta hospitalar. Estava bem e acima de tudo satisfeito com a cirurgia. Espero agora poder fazer desporto sem ter dores nas costas.
Como disse ao início, temos duas hipóteses de levar a coisa. Ou nos deixamos afectar e ficamos nervosos, ou tentamos levar na boa com grandes benefícios para nós mesmos… mas não é fácil… O sistema é um problema.