Lipoma = é um acumular de tecido gorduroso que surge por baixo da pele (subcutâneo). Os lipomas são tumores benignos, mas podem crescer bastante, causando grande incómodo estético e até mesmo físico.
Decidi extrair, no âmbito do 2010 o ano da saúde (coisas minhas). Foi mais rápido do que julgava e na passada terça feira sai de casa rumo ao Amadora Sintra para a micro-cirurgia. Dei entrada no Hospital e desde logo percebi que tinha de me conter. Vejo um casal a entrar no carro para sair do estacionamento e encostei o meu carro com pisca ligado a sinalizar a intenção de estacionar. Assim que o lugar ficou vago, chega-se um chouriço à frente vindo de uma saída das consultas externas. Eu parei o carro e fiz sinal que o lugar era meu. Avanço um pouco para a frente com intenção de estacionar de traseira e qual não é o meu espanto quando o chouriço se mete a chourição pelo estacionamento. Travei o carro e avancei em direcção ao sr. Chouriço. Educadamente pedi que tirasse o carro pois já lá estava à espera do lugar. A resposta não foi positiva e eis que sou invadido por uma onda de agressividade e literalmente ordenei que tirasse o carro ou ía-mos ter chatices. Isto em português terá sido mais ou menos assim: Tira mas é essa merda daí antes que leves uma chapada no focinho!!!!... Triste admito, mas eficaz! Chouriços ou distraídos? Não sei, sei apenas que abusam da sorte. O povo é sereno, mas um dia também o povo se passa dos carretos! Tenho o hábito de dizer… mamem mas não abusem! Este estava claramente a abusar!
Era suposto dar entrada ao meio dia. Cheguei ao local pelas 11:45h. Foi-me pedido para esperar na salinha até que me chamassem. Quando me apercebi da quantidade de pessoas que esperavam por uma cama, como eu, formatei de imediato as ideias de forma a não me deixar influenciar pelo pessimismo geral, ou mesmo pela má entrada no Hospital. Esperei mais de 2 horas. Debaixo de protestos mudos de alguns pacientes que nada tinham disso mesmo, paciência. Lá me aguentei, tranquilo e de boa vontade. Fui chamado e acompanhado por uma enfermeira com muito sentido de humor. Disse-me que não tinha cama, teria de ficar numa sala adaptada para o caso. Só lhe respondi que isso é que era preciso. Bom humor apesar das circunstâncias. Já na sala constatei que era mesmo uma situação real. Não tinha cama. Foi-me dito que provavelmente não teria sapatos. Não estava bem a perceber se estavam a brincar comigo, ou a falar a sério. Quando foi para me colocar o cateter, virei o bico ao prego. A enfermeira escarafunchou a mão direita e perguntou-me se estava a aleijar. A resposta tinha de ser no mesmo tom. Calmamente respondi que não, apenas estava quase a desmaiar… Parou de imediato e olhou para mim muito assustada, mas ri-me e conclui com humor. Deve pensar que só se brinca para um lado não? Ahahahah essa foi boa! Dizia ela. Coisa de 10 minutos depois chega uma auxiliar e entrega-me a bata verde e completamente transparente. Confirma que não tinham sapatos, estavam esgotados. Mandou-me despir e vestir a bata (igual a nada lol). Temos 2 maneiras de agir nestes casos. Ficamos envergonhados, ou pensamos que fartos de ver gajos com a piroca a balançar de um lado para o outro estão eles. Optei pela segunda hipótese. Nada mais certo. Deixei as vergonhas na sala e saltei para a maca a caminho do bloco operatório. A partir daqui somos tratados como mercadoria. Deixei de ter nome. Passei a ser o “primeiro tempo”. Dr. Já está aqui o primeiro tempo. Fiquei cerca de 30 minutos num hall de entrada para o bloco operatório. Tive tempo para dormir uma soneca, apesar de ter como almofada o dossier com o meu processo… Fui acordado pela única enfermeira que me tratou como ser humano. Simpatia e calor humano numa sala fria e impessoal. Liga-me ao saco de soro e logo inchou a mão. Azar, temos de furar a mão esquerda. Depois de tudo a postos e de me virar de barriga para baixo, fui informado de que iria ser anestesiado localmente com direito a adrenalina. Contente pela adrenalina (ahahahahah) mas preocupado pela anestesia local. Era sinal de que iria estar consciente e atento ás conversas. Senti a picada para a anestesia e de seguida comecei a ouvir comentários como: já lá estamos! Depois disso foi como se estivessem com um alicate a tentar tirar um parafuso velho e enferrujado. Este está difícil! Não quer sair! Umas tentativas depois… Já está! Respirei de alívio. Não estava a sentir qualquer coisa, mas as palavras eram tão piores que as dores, pensava eu. Quando me estava a preparar para relaxar, oiço: Espera! Ainda está lá mais qualquer coisa… Sai mais uma sessão de alicate e chave de fendas lol. Quando me puxam por um bife, gani de dor como um cão e respirei fundo. Perguntaram-me se doeu… chiça! Não que não doeu!!! Dessa hora em diante comecei a suar perdidamente, a ficar tonto e sem reacção (sintomas sobejamente conhecidos por mim) ao ver os monitores, a enfermeira humana (lol) depressa avisa o médico de que estava a ter uma quebra de tensão e baixa repentina da pressão cardio vascular. Nessa altura e em consideração a ela, levantei o braço e disse que era normal. Já ia recuperar e expliquei que basta falar de ossos partidos e coisas do género para ficar nesse estado. Ela riu e de facto confirmou-se a minha previsão. Mesmo a ouvir palavras como, dê dois pontinhos por dentro e depois pode coser por fora, os níveis retomaram a normalidade e apenas foi difícil fazer o penso, pois estava tão suado que nada colava à pele. Ao sair do bloco operatório fui surpreendido pela enfermeira humana que me ajudou a passar para a maca. Ela deve saber o quão importantes são estes gestos. Foi a única pessoa a quem agradeci, precisamente por ser a única que me tratou como José e não como “primeiro tempo” Na volta para a sala improvisada, discussão brutal entre enfermeiros e médicos sobre se iria ficar internado ou não. Camas não temos. Isto é uma vergonha dizia o enfermeiro chefe! Querem operar tudo, mas depois não têm condições. Lá decidiram mandar-me para casa. Nota 10 para a enfermeira que me deu a alta hospitalar. Estava bem e acima de tudo satisfeito com a cirurgia. Espero agora poder fazer desporto sem ter dores nas costas.
Como disse ao início, temos duas hipóteses de levar a coisa. Ou nos deixamos afectar e ficamos nervosos, ou tentamos levar na boa com grandes benefícios para nós mesmos… mas não é fácil… O sistema é um problema.